terça-feira, outubro 31, 2006

Fumar Resolve os Meus Problemas

Um fumador quando se depara com uma situação problemática que lhe provoca raiva, inicialmente sente a frustração do momento e automaticamente acende um cigarro. Quanto aos ex-fumadores o mesmo episódio é no mínimo, desagradável. Não havendo cigarro, a única coisa que resolve a situação é o aparecimento de uma solução para o problema ou não havendo uma, há que assimilar a frustração e continuar com a vida. Agora, repare: o fumador na mesma situação além do problema que surgiu tem que lidar com outro problema (apesar de, ninguém que fume o reconheça) que são as implicações relacionadas com os seus hábitos tabágicos e com aquilo que acredita que o leva a fumar.

Quando uma pessoa entra em stress, este fenómeno provoca uma consequência a nível fisiológico no corpo - a acidificação da urina. Numa pessoa que não fume este fenómeno não tem particular importância: acontece, a pessoa não sente nada, basicamente não tem importância como disse. No fumador não é assim. Quando este se depara com stress a urina acidifica, provocando uma aceleração na velocidade a com que a nicotina é expulsa da corrente sanguínea. Não é sequer metabolizada. Consequentemente obriga o cérebro a pedir mais nicotina e leva o fumador a sentir a necessidade de se abastecer com mais droga... oops, nicotina! O fumador está então em stress pela situação com que se deparou mas também todo o processo que está a ter lugar dentro do seu corpo não está a ajudar nada.

Apesar de isto ser um efeito falso, o fumador acha que o cigarro lhe acalmou o stress. Na verdade, apenas "calou" o seu cérebro por mais uns minutos em matéria de abastecimento de nicotina. Quando o nível de nicotina no sangue cair de novo, voilá, o seu cérebro de novo envia o e-mail para que se proceda a novo abastecimento. O grande problema é que este processo afecta o modo como o fumador reage a determinadas situações ou até o impede de aprender através da experiência.
Vejamos:

Imagine que voçê não gosta da maneira como a sua mulher aperta o tubo da pasta de dentes. Não é nada do outro mundo, e se voçê fizer um reparo com calma e de um modo racional talvez a sua mulher não se importe e até comece a utilizar a pasta de dentes de outra maneira. Ao comunicar aquilo que sente voçê fez com que uma pequena discordância desaparecesse.
Agora, imagine a mesma situação mas com um fumador (Eu sei que neste momento está a pensar "Que rídiculo, uma pasta dos dentes", mas se é fumador quando chegar ao fim vai entender na perfeição o que eu estou a dizer). Voçê vê a pasta dos dentes, fica um pouco aborrecido com a situação, acha que se calhar é melhor dizer qualquer coisa para resolver a situação. Mas espere! Como voçê está um pouco irritado, acabou de perder nicotina do seu corpo, sente sintomas de privação e antes de lidar com o problema, voçê fuma um cigarro. Então, fuma, alivia os sintomas de privação e não é que se sente melhor? Contudo, começa a pensar que não é nada de especial, afinal é só pasta dos dentes e decide deixar o assunto para outro dia. Até parece que ficou resolvido. Na verdade, não ficou. O que acabou de fazer foi suprimir aquilo que sentia. O problema continua lá, por comunicar e por resolver. Quando acontecer de novo, voçê vai ficar outra vez zangado. Perde nicotina and here we go again. O ciclo repete-se, durante anos se for preciso.

Um dia decide deixar de fumar. Pode estar semanas ou meses sem tocar num cigarro. O problema da pasta de dentes surge então. Desta vez não tem nenhum ciclo dentro de si que o faça perder nicotina e que o afaste da situação. Voçê depara-se com a situação, e literalmente REBENTA. Passado uns minutos, olha para trás e verifica que exagerou em larga escala na sua reacção a uma simples pasta de dentes. Milhares de vezes reagiu com calma a este episódio e agora perde as estribeiras desta maneira; começa a questionar-se e a pensar o que é que fez de si uma pessoa tão intempestiva de um momento para o outro. Perceba então o que é que aconteceu: voçê não rebentou por causa de uma simples pasta de dentes ou porque deixou de fumar; rebentou por causa de uma situação que o anda a perturbar há anos a fio e ao acumular tanta frustração, a explosão era inevitável, independentemente da gravidade ou seriedade da situação em causa.

Fumar impediu-o de lidar com muitos dos seus problemas de uma forma mais célere; se tivesse resolvido algumas destas situações mais cedo, se calhar, não tomarião proporções exageradas. Um bom exemplo são os casais que por vezes se separam por terem adiado constantemente uma conversa séria. É importante reter que mais cedo ou mais tarde, a discussão e resolução de conflitos surge inevitavelmente. Agora, o que não faz sentido é, ainda que inconscientemente, criar mecanismos no nosso organismo que nos impedem de reagir a determinadas situações. O adiar constante desses mesmos episódios podem ter efeitos nefastos na nossa vida pessoal.

Digo e repito, a saúde é sem dúvida um belo motivo para não fumar, mas psicologicamente, esta é uma droga que em silêncio nos tira muita coisa. Anos a fio.

Um abraço

domingo, outubro 29, 2006

Pensar e Concretizar

Um pensamento que envolva um cigarro não faz com que as pessoas que deixaram de fumar voltem a fumar - apenas a acção em si pode provocar uma situação dessas. A acção consiste em dar uma passa num cigarro ou administrar nicotina no seu organismo sob qualquer outra forma.

Palavras ou pensamentos não são factores decisivos. Suponhamos que voçê nunca deixou de fumar, foi diagnosticado com enfizema e que cada passa que dava estava literalmente a destruir mais uns milímetros do seu tecido pulmonar e consecutivamente a acabar consigo. Cada vez que voçê acendesse um cigarro se pensasse: "Sim, eu estou a destruir a minha vida, brevemente só vou puder sobreviver com uma máscara de oxigénio dia e noite até que o meu coração não aguente mais. De qualquer maneira, estou a pensar em deixar de fumar."
Não me parece que a familia,os amigos ou o médico desta pessoa vejam esta afirmação como algum feito extraordinário ou como algum esforço heróico para o que quer que seja.

Se deixou de fumar há alguns dias, semanas ou meses, olhe para trás e constate que hoje está livre dos cigarros. Porquê? Simplesmente, não cedeu a esses pensamentos.

Quer isto dizer que as suas acções valem mais do que aquilo que pensa ou do que aquilo que diz. A acção consistiu em não fumar cigarros e espero eu que ao ler isto é porque tem planos em não o fazer pelo menos durante mais umas horas. Boa sorte :)

domingo, outubro 22, 2006

"Parece que falta alguma coisa"

Há longos anos que no campo da psicologia existem algumas teorias acerca da chamada perda emocional. Mais concretamente existe uma teoria que explica os estados pelos quais uma pessoa atravessa quando se encontra "ás portas" da morte. São eles a negação, a raiva, a negociação, a depressão e por último a aceitação. Estes mesmos estados podem ser sentidos por aqueles que são intímos á pessoa que vai partir.

A negação pode ser reconhecida como um estado de descrença: "Isto não pode estar a acontecer comigo" "O médico não pode ter a certeza do que está a dizer" etc.. O mesmo é dito por familiares ou amigos frequentemente.

Assim que é ultrapassada a fase da negação, ou seja, quando a pessoa se apercebe que nada pode fazer para mudar o seu destino vem a raiva. "Porquê eu?" "Eu não faço mal a ninguém!!!" Esta raiva pode ser contra Deus, a família ou até contra o avanço da medicina. Como a raiva não resolve o problema, vem agora a negociação.

Regra geral, na fase de negociação as pessoas viram-se para Deus; "Se me deixar viver e me der outra oportunidade eu prometo que vou ser uma pessoa melhor." Esta fase, contudo também terá o seu fim.

O doente agora, esgotando todas as possibilidades vê que nada pode fazer e entra em depressão. Começa por se isolar cada vez mais, os seus pensamentos concentram-se sobretudo no facto de que vai morrer, não encontrando nada de positivo na experiência que está a viver. Quando a depressão é ultrapassada, vem a aceitação.

Agora a pessoa, como que desprovido de sentimentos, situada num campo "neutral" aceita o facto de que a sua vida vai acabar, este era o seu destino e todos temos que morrer um dia inevitavelmente. O mesmo se passa com os seus familiares e/ou amigos próximos ao aceitarem esta inevitabilidade da vida.

Se olharmos agora com atenção podemos aplicar este conceito a praticamente todas as situações em que uma pessoa perde o que quer que seja. Até mesmo em objectos inanimados como as chaves do carro.
Ora veja: primeiro perde as chaves e começa de imediato a negação - "Bom, têm que estar algures por aqui." Pacientemente procura nos bolsos, na mala, nas gavetas, em todos os sítios provavéis e começa a aperceber-se que as chaves não estão em lado nenhum. Vem então a raiva. Portas e gavetas a serem fechadas com mais força que o habitual, mão na cabeça com uma expressão facial estilo "Só comigo", e outras atitudes que todos já experimentámos. Continua a busca e vem a negociação: "Se encontrar as chaves a partir de agora vou pô-las sempre no mesmo sítio e assim nunca mais as perco." Como se isto fosse fazer com que as chaves aparecessem por magia; mas o ser humano é isto, nem melhor, nem pior. Minutos mais tarde, constata mesmo que não há chaves para ninguém e entra na fase de depressão (não no verdadeiro sentido clínico com todas as conhecidas repercussões desta doença) ao dizer algo do género: "Agora tenho que ir procurar as chaves suplentes, como é que pude ser tão burro?" Depressa vê que perder as chaves do carro não é propriamente o fim do mundo, aceita o facto e a vida continua como se nada fosse.

E o que é que isto tem tudo a ver com tabaco certo? Vamos lá então. O fumador ou ex-fumador passa também por estes estados. Se perguntar a uma pessoa no primeiro dia em que deixou de fumar se consegue imaginar-se sem fumar o resto da vida com certeza esta pessoa vai dizer-lhe que não. Esta pessoa está em estado de negação. Estão também os fumadores que dizem: "Não tenho nenhum problema de saúde, porque é que havia de parar?" ou "Eu consigo controlar o que fumo na perfeição." Estas pessoas anulam qualquer hipótese de sequer pensarem em deixar de fumar um dia tal é o estado de negação em que se encontram (de referir que o estado de negação é uma característica inerente á maioria das substâncias viciantes consumidas pelo ser humano).

De qualquer maneira os que ultrapassam a negação, depressa encontram a raiva. Todos nós já vimos como é que ficam as pessoas que deixam de fumar no ínicio. Simplesmente, irritáveis, hiper-sensíveis, os amigos evitam falar com elas, e esta pessoa não é de todo uma companhia agradável.

Ultrapassada esta fase vem a pior. A negociação. É aqui que muitas tentativas para deixar de fumar vêm o seu esforço em vão. "Podia fumar um cigarro que ningúém ia saber", "O dia não me está a correr nada bem, vou só fumar um cigarro e depois nunca mais fumo", "Eu ando tão insuportável que o melhor para todos é eu fumar um cigarro." Meses ou anos irão passar até que a pessoa tenha de novo a motivação suficiente para tentar outra vez.

Vem então a depressão quando o ex-fumador começa a acreditar que vai conseguir deixar de fumar. Mas em vez de estar contente, o ex-fumador sente que está a deixar algo importante para trás. Como se estivesse a desistir de algo que lhe proporcionou tantos momentos de prazer. Começa a fantasiar sobre os cigarros que lhe souberam bem. Neste ponto é fulcral reter o conceito "um dia de cada vez." A pessoa rapidamente começa a fazer racionalizações sem sentido e esquece que nunca irá ter na vida controlo sobre a nicotina. Afinal, foi a falta de controlo que fez esta pessoa parar.

Quando ultrapassa esta fase e aceita o facto de que fumar faz parte do passado, tem a verdadeira perspectiva do que é fumar e não fumar e seguir a sua vida em paz. É importante reter o facto que estes processos são graduais, ou seja, voçê não vai acordar de manhã a dizer "Entrei em aceitação." Apesar de conseguir verificar que está a viver determinada fase, por se tratar de um processo gradual não espere que o senhor das páginas amarelas lhe bata á porta a dizer "Entrou em negociação, cuidado nos próximos 7 dias." Algumas pessoas demoram mais tempo a ultrapassar todas as fases, mas o importante é que independentemente da pessoa que voçê é, se não introduzir nenhuma forma de nicotina no seu corpo a aceitação irá chegar mais cedo ou mais tarde. 5 fases é tudo o que é preciso para largar os cigarros para sempre; pode não ser fácil mas também não é o fim do mundo.

quarta-feira, outubro 18, 2006

O Cigarro Romântico

Os fumadores desenvolvem ao longo do tempo uma relação de amor/ódio com os cigarros; o ser humano altamente sofisticado e complexo tem que encontrar razões válidas para perpetuar aquilo que é nada mais nada menos que um vício. Sim, o único motivo que o leva a continuar a fumar é o facto de que voçê não aguenta ficar sem fumar. Sente-se irritado, nervoso, sensível e sabe que um cigarro vai acabar com isso tudo. Nesta linha de racíocinio o cigarro na verdade não criou um momento de prazer, mas antes uma situação de alívio por deixar de sentir os famosos sintomas de abstinência da nicotina.

Este estado de negação conduz inevitavelmente á crença que adora fumar, que é uma actividade prazerosa e divertida etc.. A verdade é que o fumador vive tanto para os cigarros como um alcólico vive para uma garrafa vazia, ou um viciado em heroína vive para uma seringa. Em todos os casos, vive-se para a droga que vem com o "pacote", no caso dos fumadores é a nicotina, sendo o cigarro, a garrafa e a seringa nada mais que instrumentos de entrega.
Não quero com isto dizer que ser fumador é o mesmo que ser viciado em heroína; uso este exemplo só para as pessoas perceberem que se for introduzida nicotina no corpo de um fumador através de outro método que não os cigarros, o fumador enquanto tiver nicotina suficiente no sangue para não sentir sintomas de privação não vai ter vontade de fumar (por isso é que as pessoas que usam o famoso adesivo não têm vontade de fumar e quando tiram o adesivo vão correr a comprar cigarros).

O fumador entra então num romance com os cigarros, ignorando a nicotina. O marketing constante, publicidade com celebridades, elevação de status social e outros inúmeros motivos fazem a mente de um fumador elevar os cigarros a uma categoria heróica.
Apenas na última decada se percebeu que o grau de quão viciada está uma pessoa em determinada droga não se mede pela quantidade consumida mas antes pela dificuldade que esta pessoa tem em parar de consumir determinada droga, a percentagem de recaídas e se essa substância vai continuar a ser utilizada independentemente do estado de saúde do seu consumidor. Os estudos da última década comprovam também que a nicotina em termos de vício, repito, em termos de vício, é pior que heroína ou cocaína. Se não acredita no que eu digo, não é assim tão díficil como isso encontrar uma pessoa que era viciada em heroína, que conseguiu livrar-se desse terrível vício e não consegue parar de fumar cigarros. Incrível, no mínimo. Não é por acaso que a taxa de recaída mais elevada que existe no mundo a nível de drogas pertence á nicotina. Já percebeu porque é que tem dificuldade em parar de fumar? Não é psicológico como dizem muitos; voçê precisa de nicotina para se sentir normal. Quando se abstém dela, sente-se mal e tem uma vontade suprema de fumar - isto não é psicológico, é bem REAL. Não admitir isto é o primeiro passo para nunca deixar de fumar; a base para ter sucesso em deixar de consumir qualquer substância viciante é admitir a fraqueza perante essa mesma substância. Não é díficil deixar de fumar, se perceber que está a deixar de fumar porque o único motivo que o levava a fumar era o vício pela nicotina. Não era o cigarro a seguir ao almoço, com o café ou depois do sexo. Isto são meras racionalizações que o seu cérebro encontrou para justificar algo que voçê SABE que não lhe traz benefícios. Sendo os fumadores pessoas dotadas de inteligência como os outros têm que dar um motivo a algo que não faz sentido.

Experimente o seguinte: na próxima semana em vez de pensar em cigarros, pense em nicotina. Substitue a palavra cigarros por aquilo que voçê realmente quer - a nicotina. Se o fizer vai ficar surpreendido com aquilo que tem dito a si próprio.

terça-feira, outubro 17, 2006

Ar Puro

Aí vai disto então amigo Barão:

É totalmente correcto dizer que é muito díficil (senão impossível) encontrar ar verdadeiramente puro. Dito isto, a questão que se coloca é se valerá mesmo a pena os fumadores se preocuparem com o facto dos não-fumadores inalarem fumo ou até que ponto estes últimos têm o direito de lhe pedir por exemplo para apagar o seu cigarro.
Se há tanta poluição por aí, porque é que vêm incomodar os fumadores? No fundo, foi aqui que o Barão quis chegar (se não foi já sabe que é só avisar hehe).

Eu fui fumador durante muitos anos e confesso que tal como qualquer outro fumador, o fumo dos cigarros não me fazia nenhuma confusão, o cheiro nem o sentia, nem tinha dificuldades a respirar ou experimentava qualquer tosse que fosse (a não ser de manhã quando acordava). A verdade é que hoje em dia o fumo dos cigarros é para mim algo extremamente incomodativo a todos os níveis. O cheiro, a garganta irritada e tosse é tudo o que me é proporcionado quando alguém fuma perto de mim.
Se perguntar a um não-fumador ou a um ex-fumador como eu, o que é que sente quando alguém fuma perto dele a resposta é muito idêntica áquela que eu dei umas linhas acima.
Se compararmos agora este episódio de alguém a fumar perto de mim, com um episódio da minha pessoa a passear pela Av. da Liberdade em hora de ponta posso afirmar que quando terminar o meu passeio não vou sentir a garganta irritada, o cheiro não foi tão desagradável quanto isso e não vou tossir uma única vez. Obviamente não é o mesmo que um passeio no campo, mas também não é tão intenso quanto o fumo dos cigarros. Sim, a poluição está lá, sem dúvida, o ar não é puro, mas a experiência não pode sequer ser comparada com o acto de respirar fumo de cigarros. Existe contudo uma maneira de aproximar as experiências: colocar a minha boca num tubo de escape e inalar tudo o que dali provém. Vou decerto tossir, ficar com a garganta irritada e sentir um cheiro em nada agradável. Eu não queria apresentar um exemplo irrealista (ninguém vai colocar a boca num tubo de escape), mas para sentir o mesmo que se sente quando alguém fuma um cigarro ao pé de mim, preciso de muito mais do que poluição atmosférica urbana.

Outro motivo é inevitavelmente a saúde. Hoje em dia, são sobejamente conhecidos os efeitos do fumo inalado de forma passiva. Pessoas que nunca fumaram diagnosticadas com cancro do pulmão ou até enfizema. Muitos argumentam que pode nada ter a ver com cigarros mas se tivermos em conta que nos casos de cancro de pulmão em cerca de 85% dos diagnósticos a culpa é do consumo de tabaco, a resposta é clara.
Isto leva a outro campo de discussão: a morte. "Todos vamos morrer, quer fume, quer não fume!" Esta afirmação apesar de correcta tem o seu quê de demagogia.
Vivemos num mundo de estatísticas. O cinto de segurança é um bom exemplo. Eu posso fazer uma viagem com a minha filha de 18 meses sem cinto de segurança e chegar ao meu destino sem ter ocorrido nenhum acidente. Contudo, as estatísticas dizem que se acondicionar a minha filha devidamente com um cinto de segurança em caso de embate as probabilidades de ela contrair uma lesão são infinitamente menores do que se for sem cinto. Mas como todas as moedas têm duas faces, muitos são os que mesmo com cintos de segurança morrem na estrada.
Quero dizer com isto que nada é perfeito ou infalível. Vão sempre haver pessoas a morrer que nunca fumaram na vida, mas em maior número serão aqueles que morrem prematuramente por causa dos cigarros (está em 1º lugar na lista de mortes prematuras em toda a Europa e América do Norte); inclusivé, muitas pessoas que morrem de ataque cardíaco e que eram fumadores, quando autopsiados são encontradas lesões pré-cancerosas em alguns orgãos. Se não fosse o ataque cardíaco, era um cancro que os acabava por levar.

Conclusão: sem entrar em discussões de semântica, o fumo emanado por um cigarro pode ser incomodativo ao ponto das pessoas que não fumam acharem que quando se encontram num ambiente livre de cigarros, consideram o ar como sendo "puro". Eu fui fumador muitos anos como disse, e só percebi isto quando parei de fumar. É daquelas coisas que só se percebe verdadeiramente quando se experienciam; até lá vais ter que acreditar na minha palavra Barão. Em qualquer dos casos, um abraço e espero ter clarificado um pouco este tema.
Abraço

quarta-feira, outubro 11, 2006

Ostracismo

Este foi um texto que escrevi há uns tempos e que ficou perdido num notepad somewhere até agora.
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Em relação ao que foi escrito sobre os direitos dos fumadores e não-fumadores um cronista referenciava o facto de Miguel Sousa Tavares ser referido num determinado jornal como um "conhecido fumador". Confesso que me ri bastante; como é que alguém se pode orgulhar de ser um "conhecido fumador"? Arrisco-me a dizer que nem o próprio MST, acérrimo defensor das artes tabagistas, gosta de se intitular como um "conhecido fumador."

Já referi noutros posts que apesar de fumar ser mortal, psicologicamente é muito mais devastante do que no aspecto físico. As limitações são de várias ordens, mas as de nível comportamental, social e psíquico são deveras preocupantes. Na Europa, existe um número maior de não-fumadores do que de fumadores. Em consequência, as pessoas que ainda fumam, hoje em dia, sofrem muito mais socialmente do que há alguns anos. Como diz uma amiga com frequência (fumadora): "Nós parecemos que temos a peste!" Pois é, nos dias que correm os fumadores encontram-se diáriamente em situações onde não podem fumar. Muitos estão 8 horas sem fumar, porque não é permitido fumar nos locais de trabalho. Em algumas situações de convivência social descobrem que são os únicos na mesa que fumam. Sentem que não são bem-vindos em casa de amigos e familiares que não fumam. São obrigados a lidarem com os sintomas de privação da nicotina ou então com a vergonha de ter que pedir onde é que podem ir fumar um cigarro; a resposta pode resultar em: "Na escada do prédio."

Muitos não-fumadores estão agora a exercer o seu direito de respirar ar limpo, algo que há 15 anos atrás parecia ridículo e de mau gosto. O ostracismo votado aos fumadores é cada vez mais feroz.
Cada vez que acender um cigarro considere todas as implicações de fumar esse cigarro. Vai dar de novo força a um vício destrutivo e mortal e praticar uma actividade conotada socialmente como sendo negativa. Voçê quer mesmo passar a sua vida a ser referido como um "conhecido fumador"?
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