domingo, outubro 22, 2006

"Parece que falta alguma coisa"

Há longos anos que no campo da psicologia existem algumas teorias acerca da chamada perda emocional. Mais concretamente existe uma teoria que explica os estados pelos quais uma pessoa atravessa quando se encontra "ás portas" da morte. São eles a negação, a raiva, a negociação, a depressão e por último a aceitação. Estes mesmos estados podem ser sentidos por aqueles que são intímos á pessoa que vai partir.

A negação pode ser reconhecida como um estado de descrença: "Isto não pode estar a acontecer comigo" "O médico não pode ter a certeza do que está a dizer" etc.. O mesmo é dito por familiares ou amigos frequentemente.

Assim que é ultrapassada a fase da negação, ou seja, quando a pessoa se apercebe que nada pode fazer para mudar o seu destino vem a raiva. "Porquê eu?" "Eu não faço mal a ninguém!!!" Esta raiva pode ser contra Deus, a família ou até contra o avanço da medicina. Como a raiva não resolve o problema, vem agora a negociação.

Regra geral, na fase de negociação as pessoas viram-se para Deus; "Se me deixar viver e me der outra oportunidade eu prometo que vou ser uma pessoa melhor." Esta fase, contudo também terá o seu fim.

O doente agora, esgotando todas as possibilidades vê que nada pode fazer e entra em depressão. Começa por se isolar cada vez mais, os seus pensamentos concentram-se sobretudo no facto de que vai morrer, não encontrando nada de positivo na experiência que está a viver. Quando a depressão é ultrapassada, vem a aceitação.

Agora a pessoa, como que desprovido de sentimentos, situada num campo "neutral" aceita o facto de que a sua vida vai acabar, este era o seu destino e todos temos que morrer um dia inevitavelmente. O mesmo se passa com os seus familiares e/ou amigos próximos ao aceitarem esta inevitabilidade da vida.

Se olharmos agora com atenção podemos aplicar este conceito a praticamente todas as situações em que uma pessoa perde o que quer que seja. Até mesmo em objectos inanimados como as chaves do carro.
Ora veja: primeiro perde as chaves e começa de imediato a negação - "Bom, têm que estar algures por aqui." Pacientemente procura nos bolsos, na mala, nas gavetas, em todos os sítios provavéis e começa a aperceber-se que as chaves não estão em lado nenhum. Vem então a raiva. Portas e gavetas a serem fechadas com mais força que o habitual, mão na cabeça com uma expressão facial estilo "Só comigo", e outras atitudes que todos já experimentámos. Continua a busca e vem a negociação: "Se encontrar as chaves a partir de agora vou pô-las sempre no mesmo sítio e assim nunca mais as perco." Como se isto fosse fazer com que as chaves aparecessem por magia; mas o ser humano é isto, nem melhor, nem pior. Minutos mais tarde, constata mesmo que não há chaves para ninguém e entra na fase de depressão (não no verdadeiro sentido clínico com todas as conhecidas repercussões desta doença) ao dizer algo do género: "Agora tenho que ir procurar as chaves suplentes, como é que pude ser tão burro?" Depressa vê que perder as chaves do carro não é propriamente o fim do mundo, aceita o facto e a vida continua como se nada fosse.

E o que é que isto tem tudo a ver com tabaco certo? Vamos lá então. O fumador ou ex-fumador passa também por estes estados. Se perguntar a uma pessoa no primeiro dia em que deixou de fumar se consegue imaginar-se sem fumar o resto da vida com certeza esta pessoa vai dizer-lhe que não. Esta pessoa está em estado de negação. Estão também os fumadores que dizem: "Não tenho nenhum problema de saúde, porque é que havia de parar?" ou "Eu consigo controlar o que fumo na perfeição." Estas pessoas anulam qualquer hipótese de sequer pensarem em deixar de fumar um dia tal é o estado de negação em que se encontram (de referir que o estado de negação é uma característica inerente á maioria das substâncias viciantes consumidas pelo ser humano).

De qualquer maneira os que ultrapassam a negação, depressa encontram a raiva. Todos nós já vimos como é que ficam as pessoas que deixam de fumar no ínicio. Simplesmente, irritáveis, hiper-sensíveis, os amigos evitam falar com elas, e esta pessoa não é de todo uma companhia agradável.

Ultrapassada esta fase vem a pior. A negociação. É aqui que muitas tentativas para deixar de fumar vêm o seu esforço em vão. "Podia fumar um cigarro que ningúém ia saber", "O dia não me está a correr nada bem, vou só fumar um cigarro e depois nunca mais fumo", "Eu ando tão insuportável que o melhor para todos é eu fumar um cigarro." Meses ou anos irão passar até que a pessoa tenha de novo a motivação suficiente para tentar outra vez.

Vem então a depressão quando o ex-fumador começa a acreditar que vai conseguir deixar de fumar. Mas em vez de estar contente, o ex-fumador sente que está a deixar algo importante para trás. Como se estivesse a desistir de algo que lhe proporcionou tantos momentos de prazer. Começa a fantasiar sobre os cigarros que lhe souberam bem. Neste ponto é fulcral reter o conceito "um dia de cada vez." A pessoa rapidamente começa a fazer racionalizações sem sentido e esquece que nunca irá ter na vida controlo sobre a nicotina. Afinal, foi a falta de controlo que fez esta pessoa parar.

Quando ultrapassa esta fase e aceita o facto de que fumar faz parte do passado, tem a verdadeira perspectiva do que é fumar e não fumar e seguir a sua vida em paz. É importante reter o facto que estes processos são graduais, ou seja, voçê não vai acordar de manhã a dizer "Entrei em aceitação." Apesar de conseguir verificar que está a viver determinada fase, por se tratar de um processo gradual não espere que o senhor das páginas amarelas lhe bata á porta a dizer "Entrou em negociação, cuidado nos próximos 7 dias." Algumas pessoas demoram mais tempo a ultrapassar todas as fases, mas o importante é que independentemente da pessoa que voçê é, se não introduzir nenhuma forma de nicotina no seu corpo a aceitação irá chegar mais cedo ou mais tarde. 5 fases é tudo o que é preciso para largar os cigarros para sempre; pode não ser fácil mas também não é o fim do mundo.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Passei para desejar bom dia. Continuo sem fumar, vamos ver se consigo desta vez.

quinta-feira, outubro 26, 2006  
Blogger Miguel F said...

Mas que bela notícia! O melhor conselho que te posso dar é leres os posts que tenho feito por aqui. Tenta lembrar-te dos motivos que te levaram a deixar de fumar (o ideal é fazer uma lista que esteja sempre á mão).

Lembra-te também que as primeiras 72 horas são sempre mais críticas, e que ao final de 15 dias o teu corpo está completamente livre de nicotina. A partir daí é só uma questão de readaptar o teu cérebro a lidar com uma vida sem cigarros.

Qualquer coisa, envia um e-mail.

Abraço

domingo, outubro 29, 2006  

Enviar um comentário

<< Home

Counter Stats
astrology
astrology Counter