terça-feira, outubro 17, 2006

Ar Puro

Aí vai disto então amigo Barão:

É totalmente correcto dizer que é muito díficil (senão impossível) encontrar ar verdadeiramente puro. Dito isto, a questão que se coloca é se valerá mesmo a pena os fumadores se preocuparem com o facto dos não-fumadores inalarem fumo ou até que ponto estes últimos têm o direito de lhe pedir por exemplo para apagar o seu cigarro.
Se há tanta poluição por aí, porque é que vêm incomodar os fumadores? No fundo, foi aqui que o Barão quis chegar (se não foi já sabe que é só avisar hehe).

Eu fui fumador durante muitos anos e confesso que tal como qualquer outro fumador, o fumo dos cigarros não me fazia nenhuma confusão, o cheiro nem o sentia, nem tinha dificuldades a respirar ou experimentava qualquer tosse que fosse (a não ser de manhã quando acordava). A verdade é que hoje em dia o fumo dos cigarros é para mim algo extremamente incomodativo a todos os níveis. O cheiro, a garganta irritada e tosse é tudo o que me é proporcionado quando alguém fuma perto de mim.
Se perguntar a um não-fumador ou a um ex-fumador como eu, o que é que sente quando alguém fuma perto dele a resposta é muito idêntica áquela que eu dei umas linhas acima.
Se compararmos agora este episódio de alguém a fumar perto de mim, com um episódio da minha pessoa a passear pela Av. da Liberdade em hora de ponta posso afirmar que quando terminar o meu passeio não vou sentir a garganta irritada, o cheiro não foi tão desagradável quanto isso e não vou tossir uma única vez. Obviamente não é o mesmo que um passeio no campo, mas também não é tão intenso quanto o fumo dos cigarros. Sim, a poluição está lá, sem dúvida, o ar não é puro, mas a experiência não pode sequer ser comparada com o acto de respirar fumo de cigarros. Existe contudo uma maneira de aproximar as experiências: colocar a minha boca num tubo de escape e inalar tudo o que dali provém. Vou decerto tossir, ficar com a garganta irritada e sentir um cheiro em nada agradável. Eu não queria apresentar um exemplo irrealista (ninguém vai colocar a boca num tubo de escape), mas para sentir o mesmo que se sente quando alguém fuma um cigarro ao pé de mim, preciso de muito mais do que poluição atmosférica urbana.

Outro motivo é inevitavelmente a saúde. Hoje em dia, são sobejamente conhecidos os efeitos do fumo inalado de forma passiva. Pessoas que nunca fumaram diagnosticadas com cancro do pulmão ou até enfizema. Muitos argumentam que pode nada ter a ver com cigarros mas se tivermos em conta que nos casos de cancro de pulmão em cerca de 85% dos diagnósticos a culpa é do consumo de tabaco, a resposta é clara.
Isto leva a outro campo de discussão: a morte. "Todos vamos morrer, quer fume, quer não fume!" Esta afirmação apesar de correcta tem o seu quê de demagogia.
Vivemos num mundo de estatísticas. O cinto de segurança é um bom exemplo. Eu posso fazer uma viagem com a minha filha de 18 meses sem cinto de segurança e chegar ao meu destino sem ter ocorrido nenhum acidente. Contudo, as estatísticas dizem que se acondicionar a minha filha devidamente com um cinto de segurança em caso de embate as probabilidades de ela contrair uma lesão são infinitamente menores do que se for sem cinto. Mas como todas as moedas têm duas faces, muitos são os que mesmo com cintos de segurança morrem na estrada.
Quero dizer com isto que nada é perfeito ou infalível. Vão sempre haver pessoas a morrer que nunca fumaram na vida, mas em maior número serão aqueles que morrem prematuramente por causa dos cigarros (está em 1º lugar na lista de mortes prematuras em toda a Europa e América do Norte); inclusivé, muitas pessoas que morrem de ataque cardíaco e que eram fumadores, quando autopsiados são encontradas lesões pré-cancerosas em alguns orgãos. Se não fosse o ataque cardíaco, era um cancro que os acabava por levar.

Conclusão: sem entrar em discussões de semântica, o fumo emanado por um cigarro pode ser incomodativo ao ponto das pessoas que não fumam acharem que quando se encontram num ambiente livre de cigarros, consideram o ar como sendo "puro". Eu fui fumador muitos anos como disse, e só percebi isto quando parei de fumar. É daquelas coisas que só se percebe verdadeiramente quando se experienciam; até lá vais ter que acreditar na minha palavra Barão. Em qualquer dos casos, um abraço e espero ter clarificado um pouco este tema.
Abraço

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Concordo em absoluto e assino por baixo, no entanto contínuo a bater-me pela também reducção da dependência do popó. Boa semana

quarta-feira, outubro 18, 2006  
Blogger Miguel F said...

Somos dois então. Tenho lido bastante sobre o impacto da poluição urbana, nomeadamente os "popós" como dizes, e o cenáario não é de todo agradável. A ver vamos.

Abraços

quarta-feira, outubro 18, 2006  

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